A Kyte, startup que se autodenominava a “melhor alternativa à Hertz”, está passando por uma reviravolta significativa em suas operações nos Estados Unidos.
Recentemente, a empresa anunciou que reduzirá suas atividades para apenas São Francisco e Nova York, além de demitir aproximadamente 50% de sua força de trabalho.
O que levou a Kyte a tomar essas medidas tão severas?
Segundo o CEO Nikolaus Volk, a decisão foi motivada pela necessidade de alcançar a lucratividade nos próximos 18 meses.
Em um ambiente onde o capital está caro e escasso, a empresa optou por focar nos mercados mais fortes, que representam cerca de 70% de sua receita.
Isso significa sair de grandes cidades como Atlanta, Chicago, Boston, Washington, D.C., Filadélfia, Seattle e, em breve, Los Angeles.
Mas não é apenas a Kyte que enfrenta desafios…
O setor de aluguel e assinatura de carros tem passado por momentos difíceis, especialmente para empresas que apostaram pesado na eletrificação.
A Hertz, por exemplo, anunciou em 2021 que compraria 100 mil veículos da Tesla para eletrificar sua frota.
No entanto, voltou atrás e adquiriu apenas cerca de 35 mil, para depois vender a maioria no início deste ano.
Outra startup, a Autonomy, fundada por Scott Painter, também não atingiu sua meta de montar uma frota de 23 mil veículos elétricos, pivotando para oferecer serviços de software e dados.
A Kyte, embora tenha anunciado planos ambiciosos de se tornar a maior operadora mundial de frotas compartilhadas, eletrificadas e autônomas, nunca avançou significativamente na eletrificação de sua frota.
O CEO Volk admite que isso pode ter sido uma bênção, evitando perdas substanciais com a desvalorização dos veículos elétricos.
Mas por que tantas empresas do setor estão enfrentando dificuldades?
Uma das razões pode ser o alto custo de aquisição e manutenção de veículos elétricos, além da infraestrutura ainda insuficiente de recarga.
Além disso, o modelo de negócios baseado em expansão rápida e endividamento para financiar a compra de veículos mostra-se insustentável em um cenário econômico mais restritivo.
A Kyte levantou US$ 9 milhões em 2021 e fechou uma Série B de US$ 60 milhões em 2022.
Firmou acordos de financiamento de dívida de US$ 200 milhões em 2022 e outros US$ 250 milhões em março de 2024 para adquirir veículos.
No entanto, o retorno sobre esse investimento parece não ter sido suficiente para sustentar a operação em múltiplos mercados.
Como profissionais do setor de software, isso nos leva a refletir sobre a importância de modelos de negócios sustentáveis e escaláveis.
A busca por crescimento acelerado, sem uma base sólida de lucratividade, pode ser arriscada, especialmente em tempos de incerteza econômica e escassez de capital especulativo.
Para startups brasileiras, o aprendizado é claro: é fundamental equilibrar inovação com viabilidade financeira.
É essencial validar modelos de negócios, entender profundamente o mercado e estar preparado para ajustar rotas quando necessário.
No cenário atual, as empresas precisam repensar suas estratégias e focar em sustentabilidade a longo prazo, em vez de crescimento a qualquer custo.