David Marcus não é um nome desconhecido no mundo da tecnologia.
Aos 23 anos, fundou a GTN Telecom, uma empresa de telecomunicações na Suíça.
Alguns anos depois, criou a Zong, uma plataforma de pagamentos móveis, que foi vendida para o eBay por impressionantes US$ 240 milhões em 2011.
Essa trajetória o levou à presidência do PayPal, onde consolidou a empresa como um gigante dos pagamentos digitais.
Em seguida, no Facebook, liderou o crescimento do Messenger, transformando-o em um dos aplicativos de mensagens mais utilizados globalmente.
No entanto, mesmo com um currículo tão robusto, Marcus enfrentou desafios que testaram sua resiliência.
Enquanto estava no Facebook, assumiu a liderança do projeto Libra.
A ideia era ambiciosa:
Criar uma moeda descentralizada global, atrelada a moedas tradicionais, para ser usada dentro dos aplicativos da empresa, como o WhatsApp.
Mas a iniciativa enfrentou forte resistência política e regulatória, levando ao seu eventual fracasso.
Ainda acreditando fortemente neste setor, Marcus fundou a Lightspark recentemente, levantando US$ 175 milhões em investimentos.
Seu objetivo?
Promover a adoção mainstream do Bitcoin e posicioná-lo no centro das transferências monetárias globais.
Mas por que o Bitcoin?
E por que Marcus acredita que essa pode ser a missão de sua vida?
Mover dinheiro dentro de um país tornou-se uma tarefa simples.
Serviços como Pix no Brasil ou Venmo nos Estados Unidos permitem transferências instantâneas e gratuitas.
Mas quando falamos de transferências internacionais, o cenário muda drasticamente.
Enviar dinheiro para outro país pode ser caro, demorado e burocrático.
As redes financeiras atuais são fragmentadas, muitas vezes controladas por governos ou grandes corporações.
Isso cria barreiras que impactam milhões de pessoas, especialmente trabalhadores que dependem de remessas internacionais.
Marcus vê no Bitcoin uma solução neutra e descentralizada para esse problema.
Por ser uma rede global não controlada por nenhum governo ou empresa, o Bitcoin poderia facilitar transferências internacionais de forma rápida e econômica.
Para entender melhor, comparemos as transferências internacionais usando Bitcoin e usando o sistema SWIFT.
O SWIFT é a rede padrão utilizada por bancos em todo o mundo para mensagens financeiras e transferências internacionais.
Uma transação via SWIFT geralmente leva de um a cinco dias úteis para ser concluída, dependendo dos bancos intermediários e das jurisdições envolvidas.
Além disso, as taxas podem ser elevadas, variando de US$ 20 a US$ 50 por transação, sem contar possíveis encargos adicionais ou variações cambiais desfavoráveis.
Em contraste, uma transferência internacional usando Bitcoin pode ser confirmada em aproximadamente 10 minutos a uma hora, dependendo do número de confirmações exigidas.
As taxas de transação na rede Bitcoin variam, mas geralmente ficam entre alguns centavos e alguns dólares, dependendo do congestionamento da rede.
Além disso, existe uma segunda camada de execução no Bitcoin chamada Lightning Network.
Implementando e utilizando a Lightning Network, essas transações podem ser praticamente instantâneas e com custos mínimos, muitas vezes inferiores a um centavo.
Essa eficiência em velocidade e custo faz do Bitcoin uma alternativa extremamente atraente ao sistema SWIFT para transferências internacionais.
No entanto, apesar dessas vantagens, o Bitcoin ainda enfrenta o desafio da percepção de ser lento e caro para transações cotidianas, especialmente em sua camada base, sem o uso de soluções como a Lightning Network.
Por este motivo, além da solução de transferências internacionais, a Lightspark está desenvolvendo ferramentas para simplificar o uso da Lightning Network, tornando-a acessível para empresas e usuários comuns.
Mas a jornada não é fácil.
A tecnologia é complexa, e a adoção em massa exige confiança e compreensão por parte do público e das instituições financeiras.
Além disso, concorrentes como a Ripple, com sua criptomoeda XRP, também buscam resolver o mesmo problema de pagamentos internacionais.
Marcus, porém, acredita que o Bitcoin tem vantagens únicas.
Sua descentralização extrema e robustez o tornam, segundo ele, a melhor opção para se tornar a espinha dorsal das finanças globais.
Ele imagina um futuro em que enviar dinheiro internacionalmente seja tão simples quanto enviar uma mensagem de texto.
Onde moedas locais são convertidas em Bitcoin, transferidas instantaneamente, e reconvertidas na moeda de destino, tudo isso sem que o usuário perceba a complexidade por trás do processo.
Mas será que essa visão se tornará realidade?
A adoção de novas tecnologias financeiras depende não apenas de soluções técnicas, mas também de confiança, regulamentação e mudanças de hábito.
Marcus está disposto a dedicar o resto de sua vida a essa missão.
E, considerando sua trajetória e determinação, é possível que ele esteja no caminho certo para, mais uma vez, deixar sua marca no mundo dos pagamentos digitais.
P.S.: Pessoalmente, acredito que já existem alternativas melhores ao Bitcoin — e tão descentralizadas quanto — para transferências internacionais e pagamentos, mas este é um assunto para outro artigo!