Para muitos empreendedores, o equilíbrio entre trabalho e bem-estar parece um objetivo inalcançável.
Mas Andy Dunn, fundador da Bonobos — marca de roupas masculinas que Dunn vendeu por US$ 310 milhões — está provando que essa conciliação não só é possível, como também essencial para o sucesso a longo prazo.
Durante o TechCrunch Disrupt 2024, Dunn compartilhou insights sobre como equilibrar trabalho e bem-estar é essencial para o sucesso a longo prazo.
A Bonobos, foi apenas o começo de sua jornada…
Agora, ele está à frente da Pie, uma plataforma de mídia social presencial que visa transformar a forma como usamos as redes sociais para interagir.
Mas o que torna sua história realmente inspiradora é a forma como ele lida com sua saúde mental enquanto navega pelo mundo acelerado das startups.
Diagnosticado com transtorno bipolar aos 20 anos, Dunn enfrentou desafios que vão além dos obstáculos tradicionais do empreendedorismo.
Ele ignorou o tratamento por 16 anos, até que uma segunda internação por episódio maníaco em 2016 o fez repensar suas prioridades.
“Os estados maníacos são desastrosos — é como estar em psicose, com delírios messiânicos. Você não consegue realizar nada nesse estado”, compartilhou Dunn.
A partir daí, ele decidiu levar a sério sua condição, iniciando terapia, medicação e monitoramento do sono.
Em seu livro “Burn Rate: Launching a Startup and Losing My Mind“, Dunn narra paralelamente o crescimento da Bonobos e sua jornada para aceitar e gerenciar o transtorno bipolar.
As lições vão além de sua experiência pessoal; elas tocam em questões universais sobre saúde mental no empreendedorismo.
Estudos indicam que empreendedores têm maior propensão a enfrentar problemas de saúde mental ao longo da vida.
Dunn observa uma correlação entre neurodivergência — termos que englobam condições como autismo, TDAH e transtorno bipolar — e criatividade.
“Não sei se o empreendedorismo atrai pessoas com perfis neurológicos atípicos ou se as torna mais neurodivergentes, mas certamente há um ciclo virtuoso e às vezes não tão virtuoso aí”, reflete.
Ele reconhece que alguns aspectos do transtorno bipolar, como a hipomania — um estado de humor elevado que não chega a ser psicótico — podem até parecer vantajosos nos negócios.
“Os critérios para hipomania incluem fala rápida, aumento de ideias, grandiosidade, menor necessidade de sono, maior criatividade… basicamente, as características de um empreendedor em um bom dia”, diz Dunn.
No entanto, ele alerta sobre o preço alto que isso pode cobrar, incluindo períodos de depressão profunda e até comportamentos autodestrutivos.
Agora, liderando a Pie, Dunn enfatiza a importância de um ambiente onde o desacordo é bem-vindo e visto como uma oportunidade de crescimento.
“Quando discordamos, vamos em frente, discordemos ainda mais, porque assim tomaremos decisões melhores”, encoraja.
Apesar de a discussão sobre saúde mental estar mais presente, muitos fundadores ainda temem o estigma de revelar diagnósticos a colegas e investidores.
Dunn aconselha cautela:
“Quando fundadores me pedem conselho sobre quando divulgar uma questão de saúde mental aos investidores, eu digo para esperar seis semanas após o fechamento do negócio.”
Ele reconhece que a transparência tem seus riscos, mas também acredita que esconder pode ser ainda mais prejudicial.
“Não deveríamos fazer o que eu fiz e esconder, porque quando a crise vem, é uma surpresa”, alerta.
A abertura de Dunn sobre sua condição não impediu que a Pie levantasse US$ 11,5 milhões em uma rodada Série A.
Ele atribui esse sucesso à eficácia de seu tratamento e ao equilíbrio que encontrou.
“Encaro o transtorno bipolar como meu treinamento olímpico. Para Simone Biles, o objetivo é ganhar uma medalha de ouro. Para mim, o ‘ouro’ é poder viver uma vida longa e saudável, superando o risco do transtorno.”, afirma, referindo-se ao alto índice de suicídio associado à doença.
O desafio agora é construir a Pie sem comprometer sua estabilidade.
“Queremos ter boa saúde mental e queremos que nossas equipes também tenham, mas uma jornada de 40 horas semanais não é suficiente. Você não muda o mundo com pessoas trabalhando apenas 40 horas por semana”, pondera.
Para navegar por essa linha tênue, Dunn é transparente com os candidatos sobre as expectativas de trabalho e oferece benefícios que apoiam o bem-estar.
“Tenho um novo discurso ao recrutar: este é um trabalho de 50 a 60 horas por semana, e em troca você terá duas coisas ótimas. Primeiro, você vai aprender, crescer e se desenvolver mais. Segundo, você terá participação acionária”, explica.
Dunn acredita que é possível trabalhar arduamente sem sacrificar a saúde mental.
Em “Burn Rate”, ele reconhece um erro comum entre fundadores: “Cheguei à conclusão equivocada e clássica de um fundador imaturo: se o negócio não está funcionando, é porque não estamos trabalhando duro o suficiente.”
Ele ressalta que cuidar de si mesmo faz parte do trabalho árduo necessário para ter sucesso.
A história de Andy Dunn é um poderoso lembrete de que o empreendedorismo não precisa ser sinônimo de esgotamento.
Ao priorizar a saúde mental, tanto pessoal quanto da equipe, é possível construir empresas mais resilientes e inovadoras.